Produtos e Política Industrial
A abertura econômica e conseqüente unificação dos mercados; as rápidas mudanças tecnológicas; o acesso à informação e a costumerização ou fragmentação de mercados; que caracterizam a realidade sócio-econômica em nosso tempo, determinam para as empresas a necessidade da produção de produtos word class. Para tanto, as empresas tem adotados estratégias tecnológicas e organizacionais que buscam fundamentalmente a flexibilidade dos sistemas produtivos. No campo organizacional, consolida-se o conceito de network manufacturing, caracterizado pelo estruturação em rede de pequenas empresas com capacidade de produzir uma variedade de produtos eficientemente.
Dentro deste contexto, a atividade de desenvolvimento do produto e o projeto do produto *, tem configurado-se como um dos elementos chave na determinação da competitividade industrial. É no lançamento de um novos produtos que as empresas expõem sua real capacidade competitiva.
No Brasil, apesar das distintas dinâmicas de inovação nos diversos setores industriais, percebe-se uma assimilação tardia desta realidade. Em termos gerais o país viveu até o final dos anos 80 sob uma política industrial e tecnológica caracterizada pela substituição de importações. Assim os produtos aqui fabricados, protegidos por barreiras tarifárias, não sofreram, com a mesma intensidade, as pressões advindas do acirramento da competição nos mercados.
Para se ter uma idéia da defasagem, tomando-se como base os dados referentes à Propriedade Industrial, que refletem o esforço das empresas brasileiras em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D), mostram para o ano de 1992, uma relação de 6/1 nos depósitos de pedidos de Patente de Invenção entre os não residentes e residentes no país e de 12/1 nos pedidos aprovados. Ainda, em termos dos números globais de pedidos encaminhados no mesmo ano, os dados da OMPI mostram 385000 pedidos encaminhados no Japão, 187000 nos EUA, 115000 na Alemanha, 82000 na França e apenas 14000 no Brasil. A tabela 1.1. apresenta um levantamento mais recente, cobrindo o período de 1979 a 1995 na área de Biotecnologia. Fica claro portanto, a pouca ênfase dada pelas empresas brasileiras para a atividade de desenvolvimento e projeto de produtos, no passado recente.
Para muitos o relacionamento entre P&D, Projeto de Produto e Patentes não é evidente, fazendo-se necessário justificar. Ao meu ver, e como aprofundaremos mais tarde, todo produto incorpora uma parte reusada e outra de inovadora. A capacidade de inovar, relaciona-se diretamente aos investimentos em P&D e estes, refletem-se em número de privilégios de patentes obtidos.
Apesar do quadro desfavorável apresentado em relação ao desenvolvimento de produtos, as rápidas transformações em termos de política econômica e industrial, pelas quais o país tem passado nestes últimos anos, tem colocado na ordem do dia para as empresas a necessidade de reformulação das suas estratégias de produto, em termos tecnológicos e organizacionais. Tais demandas tem obtido ressonância em diversas esferas. Cresce o número de publicações e traduções, bem com o de pesquisadores que se interessam pelo tema; são criados Parques Tecnológicos e Incubadoras Industrias, que invariavelmente apresentam uma estrutura consorciada entre a iniciativa privada, estado e universidades; e, iniciativas como o Programa Brasileiro de Design (PBD), buscam incentivar, promover e proteger a inovação.
No que se refere ao setor privado, tenho percebido enquanto pesquisador e membro dos grupos Ergo&Acão e SimuCad, uma crescente demanda por profissionais na área de projetos. Neste campo, dados mais objetivos devem ser buscados, particularmente deve-se avaliar o crescimento de investimentos em P&D, dos pedidos de patentes e dos contratos de Transferência de Tecnologia, os quais podem fornecer alguns indicadores para a questão.
As iniciativas apontadas corroboram pesquisas promovidas pelas Nações Unidas que apontam demandas por capacitação em Projeto do Produto para a América Latina e Caribe, como uma das principais barreiras a serem superadas na busca do desenvolvimento.
Comentários
Postar um comentário