Curso Investimentos 1 | FGV - Aula 3 2/2
INTRODUÇÃO
Neste curso, apresentaremos todas as bases necessárias para a
realização de investimentos pessoais. Para isso, vamos iniciar com os
conceitos básicos e responderemos por que as pessoas e as famílias devem
realizar investimentos com os seus recursos poupados. Em seguida,
discutiremos quais são os fatores fundamentais de investimentos e como
devemos tratar a relação entre risco e retorno. Por fim, definiremos ativo
financeiro e os principais ativos disponíveis para aplicação, distinguindo
renda fixa de renda variável.
Investimentos devem ser feitos de acordo com as características
pessoais do investidor. Nesse sentido, a ideia é que o investidor possa
atingir os seus objetivos financeiros de maneira correta e fácil.
Ao final do curso, você deve saber responder:
Por que investir?
O que é um ativo financeiro?
O que é renda fixa?
O que é renda variável?
O que é risco em finanças?
Como equilibrar a relação entre risco e retorno?
Quais são os fatores fundamentais do investimento?
Em que investir?
MÓDULO I – CONCEITOS BÁSICOS
Neste primeiro módulo, vamos abordar a importância em manter uma poupança, as razões
para investir, e identificar a diferença entre ativos reais e ativos financeiros.
Introdução
Vamos começar com uma história.
Na hora do almoço, Franco se sentou junto aos colegas de trabalho no refeitório da empresa.
Franco estava satisfeito porque, depois de muito insistir, conseguiu fazer com que o seu
amigo João Paulo compreendesse as vantagens de planejar sua vida financeira.
João Paulo estava mais organizado e havia preparado o seu orçamento familiar. Enfim, João
Paulo estava vivendo melhor com o que ganhava. Franco ainda pensava nisso, quando
começou a prestar atenção nas conversas dos colegas após o almoço.
— Poxa, perdi a maior grana na Bolsa...
— Mas você estava arriscando ao comprar ações.
— Eu deixo o meu dinheiro no banco e, quando sobra algo, aplico na caderneta de poupança.
— Caderneta de poupança? Essa não! O negócio é renda variável!
— Outro dia, ouvi um consultor dizer que investir em ações é sempre um bom investimento
no longo prazo.
Pensar em investimentos gera muitas dúvidas. Por exemplo: tenho R$ 12 mil aplicados na
caderneta de poupança. Devo continuar aplicando R$ 200 por mês? Qual é a vantagem de investir
em um fundo de ações? Se aplicar o meu dinheiro, ficarei rico rapidamente? Estou pensando em
aplicar na bolsa. É recomendável? Qual a diferença entre finanças, aplicação e investimentos?
Voltando à história, após ouvir a conversa dos colegas, Franco disse:
— Meus caros, investir e ficar rico é o sonho de boa parte das pessoas, mas isso não é
possível do dia para a noite. Aplicar o seu dinheiro em algo e ficar rico em um piscar de olhos
é apostar, não é investir. Investir é algo diferente...
Investir é acumular recursos, ou seja, poupar de maneira inteligente. Isso significa que
devemos organizar e planejar nossa vida financeira, e ser rigorosos em nosso controle de orçamento
para, quando decidirmos fazer uma poupança, separarmos aquele dinheiro como fazemos com
nossos pagamentos de despesas.
Precisamos conhecer mais sobre investimentos. Não podemos tratar as finanças como se elas
fossem algo estranho. Tudo isso, afinal, faz parte de nossas vidas. Nós investimos para podermos
consumir com segurança, estarmos prontos para a aposentadoria e preparados para alguma
emergência. Poupar, investir e saber como lidar com o dinheiro não têm nada a ver com ser sovina.
Consumir com segurança é, justamente, comprar o que desejamos sem acordar no dia
seguinte com dor de cabeça porque percebemos que não temos como pagar aquela conta. Investir
também pode significar estar bem preparado para a aposentadoria, afinal, queremos viver
dignamente nesse período da vida.
Sabemos que a vida nos apresenta algumas emergências – situações negativas e positivas. Algumas
situações positivas podem exigir uma poupança de segurança. Quem não tem exemplos disso?
Uma gravidez pode não ser esperada naquele momento, mas é algo que traz felicidade para
os pais. Outro exemplo é a oportunidade de combinar uma viagem de negócios com lazer.
Existem alguns mitos quando o assunto é investimento. Muitas pessoas acreditam que ações
são sempre um bom investimento no longo prazo. Isso não é verdade. Ações são bons investimentos,
mas precisamos saber quando e em que condições é bom fazer esse tipo de investimento. Todas as
formas de investimento são boas, mas precisamos saber qual é a melhor para alcançarmos nosso
objetivo. Todos nós podemos conhecer os segredos dos investimentos.
Muitas pessoas fazem confusão entre as diversas formas de aplicar o seu dinheiro. Em geral,
elas não sabem:
distinguir renda fixa de variável;
quais tipos de produtos financeiros estão à nossa disposição;
o que são fundos de investimentos;
por que devemos sempre diversificar nossas aplicações;
quando é melhor ter cautela e
quando podemos arriscar um pouco mais.
Razões para investir
Vamos começar aprendendo por que investir? A resposta para essa pergunta pode ser dada
com base em diversas razões. No entanto, na essência, investimos para atingir nossos objetivos
financeiros e de nossa família. Por exemplo, queremos comprar uma casa própria ou um carro novo,
possibilitar que os filhos estudem em uma boa escola, abrir nosso negócio, ou conquistar a
aposentadoria e aproveitar a vida. Cada pessoa ou família tem a sua própria motivação. Em suma,
queremos viver melhor.
Investir não resolve nossa vida, mas permite que consigamos condições melhores e tentemos
aumentar nosso patrimônio. Em outras palavras, investimos na expectativa de obter um fluxo de
benefícios futuros. Isso permite mantermos o dinheiro guardado e ainda ganhar um pouco mais.
Tecnicamente, a razão para investir é manter o valor de nossa riqueza. Nesse sentido, poupar
e investir o dinheiro traz benefícios, como:
poder comprar à vista;
obter descontos nas compras;
aproveitar oportunidades inesperadas;
garantir nossa educação ou a educação dos filhos;
estar prevenido e financeiramente tranquilo para alguma emergência, entre outros.
As condições econômicas do Brasil fazem com que o nosso país seja um paraíso para o
poupador e um inferno para o devedor. O Brasil teve a taxa de juro real mais alta do mundo até
maio de 2017. Desde então, estamos caindo no ranking dos maiores juros reais. No Brasil, pegar
dinheiro emprestado é difícil e muito caro. Por outro lado, o investidor tem oportunidade de obter
ganhos efetivos.
Uma reclamação geral é que todo final de ano traz muitas dívidas para pagar. Nesse período,
o Natal traz gastos com os presentes, as festas e a passagem de ano novo. Mal recebemos o 13o
salário e já gastamos todo o dinheiro. Aí vem o pior – o mês de janeiro!
Em janeiro, chegam as despesas de IPVA, IPTU, escola, uniforme e uma lista de gastos
enorme. Infelizmente, muitas pessoas não param para pensar que a solução está muito próxima.
Vamos imaginar a seguinte situação: uma pessoa ganha R$ 1.000 por mês. Com um pouco
de esforço, ela resolve guardar R$ 3 por dia. Ao final do mês, ela terá R$ 91,00. Ao final do ano,
ela terá poupado o equivalente ao seu salário! Ou seja, ela terá um 14o
salário à disposição para
gastar no temível mês de janeiro!
Muitas pessoas perdem a noção da força do rendimento dos investimentos. Isso acontece
porque elas esquecem que os juros incidem sobre os juros passados – o denominado juro composto.
Suponhamos que uma pessoa invista R$ 100 e deixe esse valor rendendo por cinco anos, com
rendimento de 1% de juro ao mês. Vejamos o que acontece: ao final do período, ela terá acumulado
R$ 181,67 – um rendimento de 82%.
Em 10 anos, o rendimento é de 230%, com o valor de R$ 330,04. Parece pouco? Então,
calculemos. Se aplicássemos R$ 100 por mês, o valor final, em 10 anos, seria de R$ 23.003,87. Se
aplicássemos R$ 1.000 por mês, no final do período, o valor seria R$ 230.038,70.
Não devemos investir o que sobra no final do mês, e sim o que programamos. Dessa forma,
quando recebemos o salário, já separamos o dinheiro para a aplicação. Somente dessa maneira
conquistaremos nossos objetivos.
Muitas pessoas acreditam que, para investir, basta ter dinheiro. No entanto, não é tão fácil
assim. Há alguns problemas que podemos encontrar pela frente, como a inflação. A inflação é um
monstrinho que “come” parte do rendimento. Isso também acontece quando aplicamos nosso
dinheiro na caderneta de poupança. A caderneta de poupança é um ativo financeiro de baixo risco.
Prestemos atenção gráfico:
Em diferentes períodos, nos últimos 21 anos, o rendimento da caderneta de poupança ficou
abaixo da inflação medida pelo IGP-M. É preciso estar atento para saber como lidar com a situação.
Para fazer nosso investimento render mais, algumas dicas são importantes:
estudar e conhecer as diferentes alternativas de investimento – precisamos saber mais
sobre os principais produtos financeiros e sobre os impostos que incidem sobre cada um
desses produtos;
comparar as diferentes alternativas, levando em conta as características de cada uma;
analisar todas as alternativas em um período de tempo longo, cinco anos, por exemplo;
tirar as dúvidas pesquisando livros, internet ou com amigos que tenham mais
conhecimento e
ser disciplinado nos investimentos.
O planejamento financeiro é absolutamente necessário para o sucesso nos investimentos.
Traçar objetivos e metas financeiras e fazer orçamentos, por exemplo.
Em caso de dúvidas sobre como fazer o seu planejamento financeiro, você deve estudar o
curso “Como organizar o seu orçamento familiar”.
O que é um ativo financeiro?
Para entender melhor sobre investimentos, precisamos conhecer a diferença entre ativos reais
e ativos financeiros. Vejamos:
a) Ativos reais
Ativos reais são bens materiais (casa, cadeira, objetos, empresa etc.). Em geral, compramos
um ativo real porque esperamos dele um fluxo de benefícios –serviços. Por exemplo, quando
compramos uma casa para morar, estamos esperando proteção contra o frio, um lugar para dormir
e outros benefícios. Ou seja, estamos na expectativa de obter um fluxo de benefícios reais.
Por outro lado, podemos comprar uma casa para alugá-la. Nesse caso, esperamos um fluxo
de benefícios financeiros, já que receberemos uma renda mensal – aluguel.
b) Ativos financeiros – títulos financeiros
Os ativos financeiros existem quando emprestamos dinheiro a um terceiro. Dessa forma,
dizemos que os ativos financeiros representam direitos sobre terceiros, como:
CDB – certificado de depósito bancário;
caderneta de poupança;
letra de câmbio;
ações e
fundos de maneira geral.
Coloquialmente, chamamos os ativos financeiros de títulos, aplicações financeiras e papéis. Ao
escolhermos qualquer um deles para investimento, esperamos um fluxo de benefícios futuros. No
caso dos ativos financeiros, o fluxo de benefícios futuros representa um rendimento.
Para entendermos melhor, tomemos o CDB como exemplo. Costumamos dizer que
compramos um CDB quando, na verdade, estamos emprestando dinheiro para o banco. Nesse
caso, ficamos com o direito a receber de volta o valor investido mais os juros. Para configurar essa
relação em termos jurídicos, recebemos um documento ou título chamado CDB. Desse modo,
admitimos que mantemos um ativo financeiro como reserva de valor.
Em outras palavras, queremos
preservar nossa riqueza e ainda obter algum ganho.
Os títulos podem ser classificados segundo:
a) órgão emissor;
b) forma de remuneração;
c) prazo e
d) correção pré ou pós-fixada.
A seguir, vejamos cada um deles.
a) Órgão emissor
Os títulos podem ser emitidos de órgãos públicos ou privados. Os títulos do Tesouro
Nacional são exemplos de emissão de órgão público. Por exemplo:
Tesouro Prefixado – LTN – Letras do Tesouro Nacional;
Tesouro SELIC – LFT – Letras Financeiras do Tesouro e
Tesouro IPCA + Juros semestrais – NTN – Notas do Tesouro Nacional.
São exemplos de emissão de órgão privado o CDB, a caderneta de poupança, as ações e
os debêntures.
b) Forma de remuneração
A forma de remuneração pode ser composta de renda fixa ou renda variável. Os títulos de
renda fixa são aqueles que prometem devolver o valor principal mais os juros determinados. Dessa
forma, quem investe em títulos de renda fixa tem o direito de receber de volta o principal cedido
mais os juros combinados. Essa soma de valores é uma forma de remuneração pelo capital
emprestado. São exemplos de títulos de renda fixa o CDB, o CDI, a caderneta de poupança e a
letra de câmbio.
O título de renda variável é adquirido quando o investidor tem a expectativa de ter um bom
retorno. No entanto, não há garantia desse retorno e pode haver perda financeira.
No caso das ações, se o desempenho da empresa emissora for bom, o investidor tem bom
retorno. Se for ruim, o investidor pode perder parte do seu investimento. São exemplos de títulos
de renda variável os fundos, o ouro, o câmbio e as obras de arte.
c) Prazo
O prazo pode ser fixo ou indeterminado. Títulos de prazo fixo têm o dia de resgate
determinado, ou seja, têm um prazo de vencimento previamente estabelecido. O CDB e as letras
de câmbio são exemplos de títulos de prazo fixo.
Títulos de prazo indeterminado não têm prazo de vencimento. Dessa forma, enquanto não
resgatamos o valor depositado, o título continuará rendendo juros. São exemplos de título de prazo
indeterminado a caderneta de poupança e as ações – que continuam gerando ganhos de capital e
dividendos enquanto não forem vendidas.
d) Correção pode ser pré ou pós-fixada
O título pré-fixado é aquele cujo rendimento final já está definido no ato da compra. Um
exemplo de título pré-fixado é um CDB que promete pagar 1% ao mês. Nesse caso, receberemos a
quantia de R$ 1 por mês para cada R$ 100 investidos no título.
O título pós-fixado não define o rendimento final no ato da compra. A caderneta de
poupança, por exemplo, promete pagar ao investidor 0,5% ao mês mais a variação da taxa
referencial de juros – TR.
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